O mar enquanto
“O mar enquanto” marca a estreia de Diego Lock Farina na poesia. Conduzido por movimentos e imobilidades, propõe-se a imergir na imanência da linguagem, sem perder o lastro social e o diálogo crítico com a tradição.
Atento ao exercício formal, o autor parece ciente do equívoco que é escrever poesia, ofício invariavelmente de metalinguagem, mas que também apreende do seu “fora” a manifestação de uma sensibilidade expandida. Essa dimensão de exterioridade pode ser lida aqui através de conversações não alegóricas com o pensamento da diferença, com as teorias do micropolítico, do nomadismo, do relacionismo e da afecção do cinema.
Da poesia prosaica, deslizante e objetiva, perspectivista ou construtiva, a poemas de discreto lirismo que jamais recaem nas armadilhas do “eu” insuflado, pretensioso ou narciso, “O mar enquanto” revela, ou melhor, busca se inserir numa contingência talvez não mais tão ativada na literatura brasileira contemporânea. Ou seja, da poesia preocupada com o rigor e a seriedade da reflexão poética. Tudo isso em meio a uma espécie de poética do menor, do resíduo e do rastro que dá efeito de conjunto à variedade de motivos experimentados no livro.