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Adriano Chupim, o homem de preto

  • diegolockfarina
  • 11 de ago.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de ago.

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Não sou leitora de romances contemporâneos, nem de romances locais. A referência mais próxima que posso ter de um texto moderno que explora a existência do sul-riograndense “moderno” seria o Romance no Rio Grande, de Reynaldo Moura, publicado em 1954, lido nos idos da graduação. Acessei o Adriano Chupim por acaso do convite de seu lançamento e, por ser pequeno, decidi tentar.



Levei-o para as férias e, no ônibus noturno, tive que segurar as gargalhadas para não acordar os passageiros. Essa já é razão suficiente para recomendar a leitura, mas não só isso.


Parece-me que Adriano Chupim é um tipo local serrano ainda pouco explorado pela literatura, devido à complexidade de referências que nele convergem. Adriano Chupim é um rapaz oriundo da região interiorana de Caxias do Sul – ou “Campo dos Bugres”, seu primeiro nome, e uma localidade tradicionalmente atribuída à colonização italiana. No entanto, seu senso de não pertencimento com a chegada da urbanidade à região o leva nada menos que a Porto Alegre, capital do estado. Lá, integra percepções políticas cosmopolitas, mas faz-lhe falta o bucolismo do lar juvenil. Tal bucolismo é estimulado pelas tendências tradicionais ditas gauchescas, e Chupim torna a casa, recebendo esse apelido devido à pilcha negra, para plantar erva-mate – e não uva, como possivelmente seus antepassados italianos. Seus ideais “cospomolitas” de rapaz da capital, no entanto, são da capital do Rio Grande do Sul, e por isso há ressalvas: Chupim – menos por política e mais por interesse carnal na Fran – envolve-se no movimento separatista.


A convergência de que falei vem dessas três referências de “tradição” que, hoje, estão presentes em muitos de nós: o gaudério, que também é colono, que também almeja o moderno gaúcho de Porto Alegre. O tipo serrano.


A forma bem-humorada de apresentá-lo torna a leitura agradável e também incansável – li as primeiras 60 páginas de uma vez só. Suas tiradas são tão específicas que, em diversos momentos, também pensei o quanto um leitor que não habita a serra – talvez, especificamente, o Campo dos Bugres – entenderia as referências satíricas que se apresentam. Por exemplo, as representações dos serranos e seus comportamentos no litoral, recheados de música tradicionalista gaúcha, são imperdíveis. Os tipos familiares dos colonos locais também são inseridos ao longo do texto, entremeados pelos tipos de botecos, campo afora.


A saga que Chupim encara pelo Rio Grande do Sul em busca de parcerias políticas a certa altura torna-se cansativa, talvez de propósito – parece-nos que seu ímpeto inicial se perde, assim como os parcos ideais separatistas do jovem Campo-bugrense. Como ressalva, observo apenas que o narrador contador do causo (outro tipo gaúcho profícuo que merece seu registro em um texto como esse, que compila tantos), que de início parecia tão próximo de nós, parece desaparecer no fluxo narrativo.


Nada, no entanto, que desmereça essa leitura prazerosa e irônica, que também funciona como um registro diacrônico do sul-riograndense serrano moderno: um compilado de tradições importadas ou inventadas ou adaptadas, no qual perdura, ainda bem, o nativo indígena chimarrão. 

 

Elisa Seerig, professora de línguas e literatura no IFRS
Elisa Seerig, professora de línguas e literatura no IFRS

 
 
 

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